"Gordas não engravidam queridinha!"

"Gordas não engravidam queridinha!"

Foi o que eu ouvi de uma certa ginecologista a exatos 11 meses atrás de um grupo de planos de saúde bem conceituados no Rio de Janeiro.
E depois de 11 anos tentando e tentando, você meio que acredita em tudo que falam pra você.
Ai, imaginem vocês a surpresa quando eu vi subir a segunda lista?

E foi assim que começou a minha história de amor :)

Em várias consultas, ano pós ano, médico pós médico, você procura respostas e explicações do por que não engravidou, mesmo sendo tentante.
Você começa a achar que não é sua hora, ou que seu corpo não está preparado.
E médico pós médico dão a mesma solução: EMAGREÇA ( Quero deixar claro, que cada caso é um caso, emagreça se possível sim, você engordará na gravidez, então se puder perder 5, 10 quilos, já fará uma enorme diferença).
Um deles chegou a me orientar fazer uma bariátrica para que eu emagrecesse e engravidasse.

Certo, uma gestação de uma mulher magra e uma mulher obesa são bem diferentes. Eu já trabalhei em maternidade, acredite, eu sei como as meninas ficavam após um parto. E como certos médicos carniceiros tratavam uma gestante obesa. E pior, que TODOS eles vem com o tal preconceito velado. Eu sei tudo isso. Conheço todos os riscos melhor do que ninguém. Convivi com isso muitos anos.

Só que ser mãe é e sempre foi meu sonho... Eu sempre quis ter filhos, uma família. Sempre me senti preparada pra isso ( embora hoje, sei que nada sei).

E é muito triste uma médica chegar pra você após seus exames de preventivo falar: Olha meu amor, ser mãe pra você é complicado, você já pensou em adoção? Afinal, mulheres gordas normalmente não engravidam, e é difícil, por que engordam mais ainda, o parto é complicado, você pode até morrer. ( Não acaba por ai), Você precisaria emagrecer uns 50 quilos, e fazer uma pequena operação para virar o seu útero ( Além de tudo, segundo ela, eu sou portadora de útero invertido), e ai sim, poderíamos tentar uma gravidez.

Só uma observação. Eu fui nessa médica, por causa das minhas crises de TPM, queria tomar aquele anticonpecional direto e não menstruar mais.
Inclusive, ela cortou meu anticoncepcional, por que sou hipertensa. E ela me mandou a um endocrinologista para que ele me passasse algo pra controlar minha TPM. Ele me passou um antidepressivo, um calmante, e um remédio pra emagrecer... ( Mas que caralho...).

Ai vocês imaginem como eu me senti? Eu me senti um lixo, eu me senti um nada. Tudo que eu sempre quis foi gerar uma vida, cuidar de uma vida... Ter meu coração do lado de fora sabe... Me sinto capaz pra isso, sempre senti.

E a coisa piora, quando você conta a amigos, e eles respondem ... " Deus sabe o que faz".
Oi? Como assim? Deus acha aquela mulher que vai pro bar e deixa o filho trancado, sozinho dentro de casa mais capaz que eu? Como assim?

E ai, você entra em grupos, conversa, desabafa... E conhece pessoas ( Adivinha?) MAGRAS que passam pelo mesmo problema que você. Que são tentantes a 10 anos, 15 anos...
Eu entrei em grupos de adoção... Estava me programando pra isso.

Minha menstruação sempre foi irregular, então eu não ligava para atrasos, pra mim são normais. E por conta dessa irregularidade e de um médico que acha que todos os meus problemas se resumem a emagrecer eu procurei a médica mais foda que eu conheço: Minha avó!
Explicando pra ela a situação da minha menstruação, ela veio com aquele velho discurso "... Por que no meu tempo, tinha uma garrafada, chá de rosa branca....". Mas no fim, ela me mandou comprar saúde das mulheres para regular meu ciclo.
Eu comprei dois vidros ( O treco ruim de encontrar), e lá fui eu tomar...

Tomei o primeiro vidro no ciclo de janeiro/2015, durante o período de menstruação, fevereiro não veio, e nasceu a pontinha de esperança. E vamos de teste de farmácia ( negativo), e outro ( negativo) e beta ( negativo) e finalmente desceu em março.

Uma coisa aconteceu em janeiro também...
Minha irmã descobriu a gravidez dela. Nossa, foi ai que eu virei um trapo de pano. Muito feliz por ela. Mas foi a morte pra mim... Como eu queria, como eu pedi... Como eu chorei no colo do meu marido. Me senti um lixo, uma ninguém, uma árvore seca, pessoa ruim, que não tinha nem a capacidade de gerar um filho. E eu fui aceitando aos poucos a minha condição de "madrinha", mãe emprestada do filho dos outros, e fui curtindo a gravidez dela.

E em fevereiro, quando eu obtive meu negativo ( Tive esperanças por que plantaram em mim... Um filho puxa outro, todo mundo dizia), eu fiquei pior. E aboli de uma vez por todas as minhas esperanças.

Comecei a fazer muay thay. Comprei vários moveis enormes pro meu quarto, planejei viagens, cursos. Queria tirar aquilo da minha cabeça, e dar razão ao que sempre me disseram a vida toda. Até dieta eu comecei....

E foi no dia 15 de maio que eu acordei super mal ( Estava me sentindo mal a tempos, só que eu achava que era gastrite ou gordura no figado, inclusive no final desse mesmo mês iria fazer um plano de saúde para cuidar, " por que os exames são caros") e algumas meninas me falavam " faz o teste", eu não queria. Não tinha esperanças nenhuma. Aboli aquela ideia de mim.

Mas depois de tanto falarem,  pedi ao meu marido, que me trouxesse um teste de farmácia, por que o ultimo que eu fiz, desceu em seguida,e  eu não aguentava mais dores nos seios.
Ele trouxe no retorno da auto escola. Me entregou, as 16:00 hrs. E saiu pra comprar pão.

Eu nem esperei o outro dia. Fiz xixi no potinho, coloquei a fitinha, e fui lavar a mão. Olhei, uma faixa, " normal, agora é só jogar fora, pensei". Quando eu vi a segunda faixa subir... Eu tremi dos pés a cabeça. Eu não sabia se eu chorava, se eu sorria, eu fiquei em estado de choque!
"Oi? Segunda faixa? Calma ai, esse teste tá com defeito"
Eu me tremia, achei que ia desmaiar no banheiro. Peguei o teste na mão e fiquei pensando... "Meu Deus e agora, eu conto, não conto? O que eu faço". Parecia que tinha engravidado de um homem casado sabe, ou pior, de um bandido, do Lula, sei la.
Mas eu morri de medo.

E fui a sala, minha mãe e avó estavam vendo novela. Quando eu sentei do lado da minha mãe e entreguei o exame. E comecei a chorar, muito. E ela. Ué, você tá grávida? Grande coisa...". A reação da minha avó foi assim "Eu sabia, você esta muito barriguda, com essa pança enorme!" E em seguida minha mãe... " Você não podia engravidar, não tem o útero invertido"?

Mas confesso, que no grupo de tentantes, eu fiquei incrédula, busquei falsos negativos. E mesmo depois de um beta positivo, eu não acreditava... E mesmo depois de uma ultra, eu não acreditava naquele pontinho piscando... Eu continuava em choque!



E ai, desse jeito... começou a minha história de amor.
Agora, eu me sinto mãe.
E eu sei que será muito, muito difícil. Que não será a melhor das gestações, ou será a melhor delas.
Eu sinceramente não sei.
Sei que Deus me concedeu a oportunidade de sentir esse milagre em mim... depois de 11 anos tentando ( 8 com meu primeiro marido, e os dois últimos com meu atual marido). E ah, o médico que fez a primeira ultra, disse que meu útero não está invertido viu.

E ai, eu resolvi criar esse blog. Vai ser um relato. Um relato da minha gestação. Para que mulheres obesas como eu ( Não to falando de manequim 46, tô falando de manequim 56) saibam como é ser uma gestante obesa. Lembrando que uma gestação nunca será igual a outra.

Mas serve pra você que pensa que apenas uma bariátrica pode resolver seu problema.
Serve para que você saiba, e entre nessa vibe comigo. Saiba, você é perfeitamente normal.

Você é completamente capaz de viver como qualquer outra pessoa.